segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

“A Cartomante”, de Machado de Assis (reescrita) "A vidente"

A Vidente
 Juvenal diz a Joaquim que há mais coisas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia.
Era a mesma explicação que dava a bela Carmelina ao moço Adolfo numa segunda-feira de dezembro de 2010, quando este ria dela, por ter ido anteriormente consultar uma vidente; a diferença é que o fazia por outros motivos.   — Ria, ria.
Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Apenas começou a colocar os búzios, disse-me: "A senhora gosta de uma pessoa..." Confessei que sim, e então ela continuou a botar os búzios, arrumou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade...
— Errou! Interrompeu Adolfo, rindo.
— Não diga isso, Adolfo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria...
Adolfo pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo. Jurou que lhe queria muito, que os seus sustos pareciam de criança; em todo o caso, quando tivesse algum receio, a melhor vidente era ele mesmo. Depois, repreendeu-a; disse-lhe que era imprudente andar por essas casas. Adolfo podia saber, e depois...
— Qual saber! Tive muita cautela, ao entrar na casa.
— Onde é a casa?
— Aqui perto, na Rua do Professor Mostardeiro, não passava ninguém nessa ocasião. Descansa; eu não sou maluca.
Adolfo riu outra vez:
— Tu acreditas de verdade nessas coisas? Perguntou-lhe.
Foi então que ela disse-lhe que havia um fundo de verdade em tudo isso. Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhou coisas que faziam muito sentido. E o que mais? A prova é que ela agora estava mais tranqüila e satisfeita.
Percebi que ele ia falar, mas se calou. Não queria tirar dele as fantasias. Também ele, quando criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram.
No dia em que deixou de lado toda essa superstição vazia, e ficando somente a realidade, ela, como tivesse recebido da mãe muitos ensinamentos envolveram-os na mesma dúvida, e logo depois em uma confusão mental total. Adolfo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia dizê-lo, não possuía um só argumento: limitava-se a negar tudo. E digo mais, porque negar é ainda afirmar, e ele não demonstrava a descrença; diante do mistério, satisfeito balançou os ombros, e saiu andando.
Afastaram- se alegres, ele mais que ela. Carmelina percebia que era amada; Adolfo, não só estava alegre, mas via-a estremecer e arriscar-se por ele, correr às videntes, e, por mais que a repreendesse, não podia deixar de sentir-se envaidecido. A casa do encontro era na antiga Alameda do Santuário, onde morava uma conhecida de Carmelina. Esta desceu pela Rua 30 de novembro, na direção da Praça, onde residia; Adolfo desceu pela rua do  Banco Banrisul olhando de passagem para a casa da vidente.
Marcos, Adolfo e Carmelina, três nomes, uma aventura e nenhuma explicação das origens. Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Marcos seguiu a carreira Militar. Adolfo também entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo político; mas o pai morreu, e Adolfo preferiu não ser nada, até que a mãe lhe arranjou um emprego público. No princípio de 1971, voltou Pedro da Capital Porto Alegre, onde se casou com uma mulher formosa e boboca; abandonou o militarismo e veio tirar onda de advogado.
Adolfo conseguiu-lhe casa para os lados de Santos Anjos, e foi contente recebê-lo.
— É o senhor? Falou Carmelina, estendendo-lhe a mão. Não imagina como meu marido é seu amigo, falava sempre do senhor.
Adolfo e Pedro olharam-se com carinho. Eram amigos de verdade.
Depois, Adolfo confessou para si mesmo que a mulher do Marcos não desmentia os búzios do marido. Realmente, era graciosa e com delicados gestos, olhos calmos, boca fina e provocativa. Era um pouco mais velha que eles: uns trinta anos, Pedro vinte e nove e Adolfo vinte e seis.
Entretanto, o corpo forte de Pedro fazia-o parecer mais velho que a mulher, enquanto Adolfo era  ingênuo na vida moral e prática. Faltava-lhe tanto a experiência adquirida com o tempo, como os olhos de águia, que a natureza dá a alguns para adiantar os anos. Nem uma coisa, nem outra.
Uniram-se os três. A convivência  os aproximou intimidade. Pouco depois morreu a mãe de Adolfo, foi uma tragédia, os dois mostraram-se grandes amigos dele. Pedro cuidou do enterro, das homenagens e do inventário; Carmelina tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor.
A partir daí chegou ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela, era a sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita. O cheiro feminino: era o que ele absorvia nela, e em volta dela, para incorporá-lo em si próprio.
 Liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e passeios. Adolfo ensinou-lhe o jogo de truco e a canastra que jogavam às noites; —ela mal, — ele, para lhe ser agradável, pouco menos mal. Até aí as coisas iam bem. Agora a ação da pessoa, os olhos teimosos de Carmelina, que procuravam muita vez os dele, que os consultavam antes de fazê-lo marido, as mãos frias, as atitudes insanas.
Um dia, estando ele de aniversário, recebeu de Pedro uma rica gravata de presente e de Carmelina apenas um cartão com um simples cumprimento a lápis, e foi então que ele pôde ler no próprio coração, não conseguia arrancar os olhos do bilhetinho. Palavras comuns; mas há simplicidades sublimes, ou, pelo menos, agradáveis. O velho barco “La Veloce Navegacione Italiana” da praça, em que pela primeira vez passeaste com a mulher amada, fechadinhos ambos, vale o carro importado do Peron.
Assim é o homem, assim são as coisas que o cercam.
Adolfo quis sinceramente fugir, mas já não pôde. Carmelina, como uma cobra, foi envolvendo ele, invadindo-o todo, ficou encantado, morrendo de amor. Ele ficou estonteado e dominado. Vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo sentiu de mistura, mas a batalha foi curta e a vitória fantástica. Adeus, pudores! Não tardou que o sapato se acomodasse ao pé, e aí foram ambos, estrada fora, braços dados, pisando folgadamente por cima de gramas e pedras, sem sofrer nada mais que algumas saudades, quando estavam longe um do outro. A confiança e estima de Marcos continuavam a ser as mesmas.
Um dia, porém, recebeu Adolfo uma carta anônima, que lhe chamava de imoral e desleal, e dizia que a aventura era sabida de todos. Adolfo sentiu medo, e, para desviar as suspeitas, começou a ir menos à casa de Pedro. Este lhe notou as ausências. Adolfo respondeu que o motivo era uma paixão fútil de rapaz. Inocência gerou esperteza. As ausências prolongaram se, e as visitas cessaram inteiramente. Pode ser que entrasse também nisso um pouco de amor-próprio, uma intenção de diminuir os favores do marido, para tornar menos dura à conversa do ato.
Foi por isso que Carmelina, desconfiada e covarde, correu à cartomante para consultá-la sobre a verdadeira causa da atitude de Adolfo.
Vimos que a cartomante trouxe-lhe a confiança, e que o rapaz arrependeu-se por ter feito o que fez. Passaram algumas semanas. Adolfo recebeu mais duas ou três cartas anônimas, tão apaixonadas, que não podiam ser ameaça da virtude, mas ciúme de algum pretendente; tal foi à opinião de Carmelina, que, por outras palavras mal empregadas, formulou este pensamento:
— a virtude é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem papel; só o interesse é ativo e pródigo.
Nem por isso Adolfo ficou mais sossegado; temia que o anônimo fosse ter com Pedro, e o desastre viria então sem remédio. Carmelina concordou que era possível.
— Bem, disse ela; eu levo a carta para comparar a letra com as das cartas que lá aparecerem; se alguma for igual, guardo-a ou rasgo-a...
Nenhuma apareceu; mas daí a algum tempo Pedro começou a mostrar-se triste, falando pouco, como desconfiado. Carmelina mais que depressa contou a Adolfo, que ficou apavorado e trêmulo. A opinião dela é que Pedro devia tornar a casa deles, apalpar o marido, e pode ser até que lhe ouvisse a confidência de algum negócio particular. Adolfo discordava; aparecer depois de tantos meses era confirmar a suspeita ou denúncia. Mais era valido precaver, sacrificando-se por algumas semanas. Combinaram maneiras de se corresponderem, em caso de necessidade, e separaram-se com lágrimas.
No dia seguinte, estando na repartição, recebeu Adolfo um bilhete de Pedro: "Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Era mais de meio-dia. Adolfo saiu logo; na rua, advertiu que teria sido mais natural chamá-lo ao escritório; por que em casa? Tudo indicava assunto particular, e a letra, fosse realidade ou ilusão, parecia trêmula. Ele combinou todas essas coisas com a notícia antecipada.
— Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora, — repetia ele com os olhos apavorados.
Imaginariamente, percebeu um pequeno drama, Carmelina contida e chorosa, Pedro indignado, pegando a caneta e escrevendo o bilhete, certo de que ele ajudaria, e esperando-o para matá-lo. Adolfo estremeceu, tinha medo: depois sorriu amarelo, e em todo caso odiava-lhe a ideia de recuar, e foi andando. No caminho, lembrou-se de ir a casa; podia achar algum recado de Carmelina, que lhe explicasse tudo. Não achou nada, nem ninguém. Voltou à rua, e a idéia de estarem descobertos parecia-lhe cada vez mais possível; era natural uma denúncia anônima, até da própria pessoa que o ameaçara antes; podia ser que Marcos conhecesse tudo. A mesma interrupção das suas visitas, sem motivo aparente, apenas com um pretexto fútil, viria confirmar o resto.
Adolfo ia andando inquieto e nervoso. Não relia o bilhete, mas as palavras estavam decoradas, diante dos olhos, fixas, ou então, —o que era ainda pior, — eram-lhe murmuradas ao ouvido, com a própria voz de Pedro.
"Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Ditas assim, pela voz do outro, tinham um tom de mistério e ameaça. Vem, já, já, para quê?
Era perto de uma hora da tarde. A ansiedade crescia minuto a minuto.
Tanto imaginou o que se iria passar que chegou a crê-lo e vê-lo.
Positivamente, tinha medo. Chegou pensar  em ir armado, considerando que, se nada houvesse, nada perdia, e a precaução era útil. Logo depois rejeitava a ideia, abatido, e seguia, acelerando o passo, na direção do centro, para entrar num táxi. Chegou, entrou e mandou seguir rapidamente. 
"Quanto antes, melhor, pensou ele; não posso ficar neste estado..."
Mas a mesma agilidade veio agravar-lhe o entusiasmo. O tempo passava rápido, e ele não tardaria a encontrar o perigo. Quase no fim da Rua do omercio, o táxi teve de parar, a rua estava interditava em função de um acidente com uma moto. Adolfo, pensou consigo, deu valor ao obstáculo, e esperou. Durante cinco minutos, percebeu que ao lado esquerdo, atrás do táxi, ficava a casa da videnter, a quem Carmelina consultara uma vez, e nunca ele desejou tanto ver a lição das cartas. Olhou, viu as janelas fechadas, quando todas as outras estavam abertas e cheias de curiosos observando o movimento na rua.
Dirigia-se a casa do indiferente Destino.
Adolfo abaixou-se no táxi, para não ver nada. A agitação dele era grande, extraordinária, e do fundo das classes morais surgiam alguns fantasmas de outro tempo, as velhas crenças, as superstições antigas. O taxista propôs-lhe voltar à primeira rua, e ir por outro caminho: ele respondeu que não, que esperasse. E inclinava-se para olhar a casa... Depois fez um gesto descrente: era a ideia de ouvir a cartomante, que lhe passava ao longe, muito longe, o pensamento desapareceu, reapareceu, e tornou a esvair-se no cérebro; mas daí a pouco o moveu outra vez, mais perto, fazendo uns movimentos homocêntricos... Na rua, gritavam os homens:
— Vamos terminar logo com isso!! Você tem de arcar com os prejuízos!
Daí a pouco estaria removido à barreira. Adolfo fechava os olhos, pensava em outras coisas: mas a voz do marido sussurrava-lhe a orelhas as palavras dos búzios: "Vem, já, já..." E ele via as contorções do drama e tremia.
A casa olhava para ele. As pernas queriam descer e entrar. Adolfo se encontrou diante de caso sem solução... pensou rapidamente no inexplicável de tantas coisas. A voz da mãe repetia-lhe uma porção de casos extraordinários: e a mesma frase do príncipe de Dinamarca reboava-lhe dentro: "Há mais coisas no céu e na terra do que sonha a filosofia... " Que perdia ele, se... ?
Encontrou-se na calçada, ao pé da porta: disse ao taxista que esperasse, e rápido entrou pelo corredor, e subiu a escada. A luz era pouca, os degraus gastos pelos pés, o corrimão pegajoso; mas ele não viu nem sentiu nada.
Subiu e bateu. Não aparecendo ninguém, teve a ideia de descer; mas era tarde, a curiosidade lhe era muita, as fontes latejavam-lhe; ele tornou a bater uma, duas, três vezes. Veio uma mulher; era a vidente.
Adolfo disse que ia consultá-la, ela fez entrar.  Subiram ao sótão, por uma escada ainda pior que a primeira e mais escura. Em cima, havia uma salinha, mal iluminada por uma janela, que dava para o telhado dos fundos.
Velhos móveis, paredes sombrias, um ar de pobreza, que antes aumentava do que destruía o prestígio.
A cartomante o fez sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no rosto de Adolfo. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas longas e enxovalhadas. Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não de rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra, com grandes olhos escuros e agudos. Colocou três cartas sobre a mesa, e disse-lhe:
— Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande medo...
Adolfo, maravilhado, fez um gesto afirmativo.
— E quer saber, continuou ela, se lhe acontecerá alguma coisa ou não...— A mim e a ela, explicou vivamente ele.
A vidente não sorriu: disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou outra vez nos búzios e baralhou-os, com os longos dedos finos, de unhas descuidadas; baralhou-as bem, trespassaram os maços, uma, duas, três vezes; depois começou a abri-las. Adolfo tinha o olho nela, curioso e ansioso.
— Os búzios dizem-me...
Adolfo inclinou-se para dizer umas palavras. Então ela disse-lhe que não tivesse medo de nada. Nada aconteceria a ales; ele, o terceiro, ignorava tudo. Não satisfeito, era imprescindível muita cautela: havia muita inveja e despeitos. Falou-lhe do amor que os ligava, da beleza de Carmelina. . . Adolfo estava abismado. A cartomante acabou, recolheu as cartas e fechou-as na gaveta.
— A senhora me trouxe paz ao espírito, disse ele estendendo a mão por cima da mesa e apertando a da vidente.
Esta se levantou, rindo.
— Vá, disse ela; vá, rapaz enamorado...
E de pé, com o dedo indicador, tocou-lhe na testa. Adolfo estremeceu, como se fosse à mão da própria fada, e levantou-se também. A vidente foi à cômoda, sobre a qual estava um prato com uvas, tirou um cacho destas, começou a despencá-las e comê-las, mostrando duas fileiras de dentes que sujavam as unhas. Nessa mesma ação comum, a mulher tinha um ar particular. Adolfo, ansioso por sair, não sabia como pagar; ignorava o preço.
— Uvas custam dinheiro, disse ele afinal, tirando a carteira. Quantas uvas quer mandar buscar?
— Pergunte ao seu coração, respondeu ela.
Adolfo tirou uma nota de dez reais, e deu-lhe. Os olhos da vidente brilharam. O preço comum era dois reais.
— Vejo bem que o senhor gosta muito dela... E faz bem; ela gosta muito do senhor. Vá, vá, tranquilo. Olhe a escada, é escura; ponha o chapéu...
A vidente tinha já guardado a nota na bolsa, e descia com ele, falando, com um leve sotaque. Adolfo despediu-se dela embaixo, e desceu a escada que levava à rua, enquanto a vidente, alegre com o pagamento, tornava acima, cantarolando uma canção. Adolfo encontrou o táxi esperando; a rua estava livre. Entrou e seguiu rapidamente.
Tudo lhe parecia agora melhor, pareciam ter outro aspecto, o céu estava límpido e as caras joviais. Chegou a rir dos seus medos, até achou infantil; recordou os termos da carta de Marcos e reconheceu que eram íntimos e familiares. Onde é que ele descobrira a ameaça? Advertiu também que eram urgentes, e que fizera mal em demorar-se tanto; podia ser algum negócio grave, gravíssimo.
— Vamos, vamos depressa, repetia ele ao taxista.
Pensava consigo como iria explicar a demora ao amigo, imaginou qualquer coisa; parece que desenvolveu também o plano de aproveitar o incidente para tornar à antiga assiduidade... De volta com os planos, permaneciam na alma as palavras da vidente. Em verdade, ela adivinhara o objeto da consulta, o estado dele, a existência de um terceiro; por que não adivinharia o resto? O presente que se ignora vale o futuro. Era assim, lentas e contínuas, que as velhas crenças do rapaz iam tornando ao de cima, e o mistério cercava-o. Às vezes queria rir, e ria de si mesmo, algo envergonhado; mas a mulher, as cartas, as palavras secas e afirmativas, a exortação: — Vá, vá, rapaz enamorado; e no fim, ao longe, a canção da despedida, lenta e graciosa, tais eram os elementos recentes, que formavam, com os antigos, uma fé nova e vivaz.
A verdade é que o coração ia alegre e impaciente, pensando nas horas felizes de outrora e nas que haviam de vir. Ao passar pela Praça, Adolfo olhou para a igreja, estendeu os olhos para fora, até onde a torre e o céu dão um abraço infinito, e teve assim a sensação de um futuro, longo, longo, interminável.
Daí a pouco chegou à casa de Pedro. Desceu, empurrou a porta de ferro do jardim e entrou. A casa estava silenciosa. Subiu os seis degraus de pedra, e mal teve tempo de bater, a porta abriu-se, e apareceu-lhe Pedro.
— Desculpa, não pude vir mais cedo; que há?
Pedro não lhe respondeu; tinha as aparências desarrumadas; fez-lhe sinal, e foram para uma sala interior. Entrando, Adolfo não pôde abafar um grito de terror: — ao fundo sobre o sofá, estava Carmelina morta e ensangüentada.  Pedro pegou-o pela goela, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão.
FIM




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